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terça-feira, 18 de junho de 2013

"ESTAMOS" CEGOS E SURDOS

 

Por Carlos Alberto Lopes
 
Em primeiro mandato como deputado federal, desde o início de minha atuação parlamentar, em janeiro de 2011, venho defendendo a tese de que somos meros representantes do povo; de que não "recebemos um cheque em branco" para preenchermos na hora em que bem entendermos e no valor que acharmos conveniente. A minha defesa se estende aos outros poderes constituídos de que não podemos agir como se fossemos os donos da verdade, sem auscultar os reclamos da sociedade brasileira; as suas necessidades básicas, as suas carências, os seus anseios. Nós fomos eleitos para defendê-las, conforme compromisso assumido solenemente quando da posse, quando dizemos "Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro e sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil".
Leio nos jornais, revistas e vejo nas TVs que muitos estão surpresos com os movimentos recentes que vem ocorrendo de segmentos da sociedade, em especial dos jovens, sob o mote de redução dos preços das passagens de ônibus e outros modais.
Vi um jovem, em São Paulo, que a redução dos preços das passagens foi o estopim para que esses movimentos fossem deflagrados, e que retrata parte da insatisfação da sociedade com o "status quo" aqui e alhures, no mundo. Dizia o cartaz: COPA FIFA: 33 BILHÕES; OLIMPÍADA 26 BILHÕES; CORRUPÇÃO 50 BILHÕES; SALÁRIO MÍNIMO 678 REAIS; E VOCÊ AINDA ACHA QUE É POR 20 CENTAVOS?
Importante frisar que somos "SOMOS 200 MILHÕES EM AÇÃO, PRA FRENTE BRASIL, SALVE A SELEÇÃO".
A que ponto chega o nível de insatisfação do brasileiro, para preterir uma de suas maiores paixões que é o futebol, para tentar incluir na pauta do país a discussão de seus problemas nacionais, que vem sendo postergados pelo parlamento nacional, tais como: a reforma política; a reforma tributária; a reforma previdenciária; a reforma administrativa; a reforma da segurança pública; a reforma da saúde; a reforma da educação; a reforma econômica; a reforma orçamentária; a reforma do judiciário; a reforma da ética, da moral, dos bons costumes, estas que deveriam embasar o comportamento dos agentes públicos, nos três poderes e nas três esferas da federação brasileira, para aplacarmos os desvios de conduta que geram as improbidades administrativas.
Li hoje, na coluna dos leitores, de um jornal de grande circulação nacional, um leitor de Niterói/RJ, dizer: "As manifestações que estão ocorrendo não são apenas por elevação de passagens, mas um sentimento de frustração geral. Nosso representantes, apesar de eleitos, nunca traduzem o sentimento de uma nação. No poder só elaboram, normalmente, leis que os diferenciam do cidadão eleitor e os fazem impunes. Julgam-se nas CPIS e se absolvem, ou se submetem a foros especiais, como cidadãos diferenciados. Criam privilégios financeiros e legais para uso próprio e castas de funcionários especiais para estarem à disposição de seu bem-estar ou interesse político. É a negação do que deveria ser um portador de mandato popular".
Tenho visto e ouvido na tribuna da Câmara dos Deputados e do Senado Federal inúmeros deputados e senadores que discursam explicitando o mesmo sentimento do leitor de Niterói acima mencionado.
Lembro-me que numa discussão na Comissão da Reforma Política, em 2012, ao elencarmos os principais pontos que deveriam ser abordados, perguntei: mas não vamos ouvir a sociedade?; ao que fui respondido por um parlamentar: "não senhor, nós já recebemos delegação do povo para decidir por ele"; ao que repliquei: "o senhor está enganado, precisamos ouvir o povo", tendo o presidente da Comissão à época, com um grupo de parlamentares, ido a várias regiões brasileiras.
Lembro-me, também, que, quando discutíamos como seriam bancadas as despesas com a Copa do Mundo, alguns defendendo a utilização dos recursos do FGTS, votei contra, dizendo: "mas não há um entendimento de que essas despesas seriam bancadas pelo empresariado nacional? Não podemos utilizar os recursos do trabalhador brasileiro."
Lembro que quando defendia a extinção do pagamentos dos 14o e 15o salários, percebi que alguns não ficaram satisfeitos.
Lembro-me que sugeri a presidência da Ouvidoria da Câmara que a mesma fosse às Assembleias Legislativas dos estados brasileiros, com o intuito de ouvir os cidadãos brasileiros, o que acabou por ocorrer em inúmeras delas.
Poderá parecer a alguns que quero me valer da funesta oportunidade para fazer proselitismo político; ser melhor ou maior do que o rei. A esses peço que acessem o meu blog: http://carlosalbertolopesrj.blogspot.com/
Em 12 de fevereiro escrevi um artigo intitulado "MEA CULPA", que está postado no meu blog, em que abordo os conflitos entre os três poderes; o questionamento dos parlamentares da judicialização pelo Poder Judiciário das ações do Poder Legislativo; a interferência do Executivo no Legislativo, com o excesso de medidas provisórias; a inação do Legislativo na definição e votação de pautas nacionais, tudo sob a perplexidade da sociedade brasileira que não aguenta mais esse estado de coisas.
As manifestações recém ocorridas, excetuados os desmandos provocados por aqueles que querem aproveitar politicamente desses momentos, que não concordo, e que não são objeto da maioria, que quer ver e sentir um novo caminho para o nosso país, são justas, democráticas, e decorrem do saturamento da sociedade, porque "estamos" cegos e surdos.
Carlos Alberto Lopes é deputado federal pelo RJ e líder do PMN