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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

“MEA CULPA”


Por Carlos Alberto Lopes

Durante os 16 meses em que atuei na Câmara Federal (fevereiro de 2011 a junho de 2012), vi e ouvi os meus pares reclamando da judicialização do Congresso Nacional (interferência do Poder Judiciário no Poder Legislativo) e das costumeiras Medidas Provisórias enviadas pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo, com força de lei, conforme Art. 62 de nossa Constituição Federal, em casos de relevância e urgência, como instrumentos de agilização de situações prioritárias, como o Orçamento Geral da União que, por não ser votado em tempo hábil, levou o Executivo, mais uma vez, a editar uma Medida Provisória, a fim de não parar as atividades dos governos federal, estaduais e municipais, sobretudo nas despesas de investimentos, de fundamental importância para o desenvolvimento nacional.

Ao longo do período acima mencionado, ouvi discursos inflamados de muitos parlamentares, sobretudo os da oposição, da tribuna da Câmara dos Deputados, dizendo coisas do tipo: “não podemos nos apequenar”; “não podemos ficar de cócoras”; “não podemos ser submissos”. Ouvi muitos parlamentares invocarem o Art. 2º da nossa Constituição que diz: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Ao retornar à Câmara Federal, já agora como titular do mandato, logo no início do 2º biênio da 54ª Legislativa, me deparo com um conflito entre os Poderes Judiciário e Legislativo, para saber quem tem competência para por fim aos mandatos de deputados federais que foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal.

Pergunto: onde estão a independência e a harmonia entre os três Poderes?

Por que o Poder Executivo envia tantas Medidas Provisórias ao Poder Legislativo?

Por que o Poder Executivo, com a antecedência necessária, não envia os competentes projetos de leis, para serem estudados, debatidos e votados pelo Parlamento Nacional?

Com todo o respeito aos meus pares, volto a indagar: será que estamos cumprindo o nosso papel de criadores, promotores e fiscalizadores das leis?

Será que temos nos preocupado em pensar verdadeiramente os problemas nacionais, deixando de lado as questões de menor importância e sem relevância para a sociedade brasileira; sociedade essa que, pelos maus feitos de alguns parlamentares, propõe, pressiona e aprova um Projeto de Lei de “Ficha Limpa”?

Será que ao longo de décadas não conseguimos aprovar um Projeto de Lei consensual de Reforma Política?

Será que, igualmente, não conseguimos apresentar um Projeto de Lei de Reforma Tributária, que enseje uma melhor distribuição da riqueza nacional, entre a União, os estados e os municípios, estes últimos que, após a promulgação da Constituição de 1988, e que completará 25 anos em outubro vindouro, só tiveram encargos, sem as contrapartidas necessárias, sobretudo agora, quando o Governo Federal, para não entrar na crise econômica mundial, vem praticando uma série de desonerações fiscais?

Será que não conseguimos fazer uma Reforma Previdenciária que dê dignidade aos trabalhadores que deram as suas vidas em favor do desenvolvimento nacional, e que, justamente no momento em que mais precisam, quando estão velhos, tem as suas aposentadorias e pensões com valores bem aquém de quando estavam em atividade?

Será que não conseguimos elaborar uma Reforma Penitenciária, para que não tenhamos nos presídios verdadeiras escolas do crime e que não recuperam ninguém?

Será que nós parlamentares não paramos para pensar que essas invasões de competência se originam na nossa incapacidade de impor-nos com pró-atividade, escolhas de temas relevantes nacionais, como os acima citados e outros, clamados e esperados pelo povo  ansiosamente, em detrimento de projetos que são apresentados tão somente para gerar mídia, para termos o reconhecimento e a respeitabilidade dele?

São muitos serás, mas acho que chegou o momento, sem querer ser mais real do que o rei, nem ensinar o padre a rezar a missa, de fazermos a nossa “MEA CULPA”, se não quisermos aprofundar ainda mais o descrédito em nossas instituições parlamentares, que a cada dia mais se agrava, reconhecido, inclusive, pela maioria dos deputados e dos senadores brasileiros.

Carlos Alberto Lopes é deputado federal, líder do PMN - RJ