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sábado, 11 de fevereiro de 2012

A QUEM INTERESSA O CAOS? - Por Carlos Alberto Lopes

           Como parlamentar pela primeira vez, é com tristeza que vejo o oportunismo político usar determinados segmentos institucionais para alcançar resultados eleitorais, sem a preocupação com: 1º - os serviços essenciais devidos à população; 2º - as conseqüências que poderão prejudicar os integrantes dessas instituições; 3º - o respeito ao Estado Democrático de Direito.
            Refiro-me aos recentes acontecimentos de greve dos profissionais de segurança pública no Ceará, na virada do ano, no Maranhão, na Bahia e no Rio de Janeiro.
            Reivindicações por melhores condições salariais e de prestação de serviços são absolutamente defensáveis, desde que observados os primados dos direitos e deveres constitucionais e regulamentares de cada uma dessas instituições: Polícia Militar; Polícia Civil; Corpo de Bombeiros Militares; instituições que como cidadão, dirigente público, em especial como ex-vice presidente do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, que à época de minha direção tinha a intenção de fazer a integração das polícias, e como ex-subsecretário de estado de Governo, formulador e ex-coordenador geral da Operação Lei Seca, aprendi a respeitar, a admirar e a defender, pelos relevantes serviços que prestam à sociedade, muitas vezes, heroicamente, colocando as suas próprias vidas em risco para salvar a de seus semelhantes.
            No ano passado, por ocasião da greve dos bombeiros e dos policiais militares do Rio de Janeiro, em razão das circunstâncias que a basearam, fui um dos que integrou um grupo de parlamentares que defenderam a anistia daqueles que não cometeram atos de ilegalidade; recebemos ordeiramente cerca de 500 bombeiros e policiais na Câmara dos Deputados para ouvi-los e levar os seus anseios à liderança do governo federal e à presidência da Câmara Federal, do que resultou a tão almejada anistia, que acabou por beneficiar a 13 estados da federação: Minas Gerais, Bahia, Ceará, Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Sergipe, Tocantins, Distrito Federal e Alagoas, chancelada pela presidente Dilma Roussef, em caráter excepcional, eis que, no caso de policiais militares, não é permitida em nossa Constituição Federal.   
            Hoje, estou em dúvida se agimos corretamente em defesa da anistia das ocorrências do ano passado, porque os especialistas e a própria presidente da República, face aos acontecimentos recentes na Bahia, com atos de violência generalizada, com cerca de 200 mortos, originários da greve, e no Rio de Janeiro, defendem que a concessão da anistia geral e irrestrita a policiais militares grevistas é “um estímulo a outras paralisações país afora.”
            As reivindicações de melhoria de condições de salariais e de serviços são justas? Evidentemente que sim, porque resultantes de décadas de abandono pelos governantes em relação à área da segurança pública.
            Surge a PEC – 300 – Proposta de Emenda Constitucional, que foi aprovada em um turno, que estabelece que deve haver um piso salarial para os policiais militares, civis e bombeiros em todo o País.
            Ocorre que, realisticamente, dependendo dos valores estabelecidos para esse piso, a maioria dos estados brasileiros não tem como arcar, sozinhos, com o impacto financeiro em suas folhas de pagamento.
            Defender o contrário é fisiologismo político de muitos que inclusive foram governadores e contribuíram para o atual estado de desvalorização da segurança pública. 
            Há que se ter responsabilidade ao defender essas proposições. Estabelecer piso nacional salarial, sem condições de pagar, é defender, às avessas, a situação de caos.
           Temos que encontrar mecanismos conjuntos – governos estaduais e federal –  Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário - para entender que a Segurança Pública é vital para a nossa população, sobretudo diante dos grandes eventos que estamos para receber em nosso País, para definir e destinar recursos compatíveis com as nossas necessidades, dentre elas remunerações dignas aos policiais militares, civis e corpo de bombeiros.
           Como gestor que fui ao longo de 45 anos na administração pública brasileira, posso afirmar que isto não se faz num estalar de dedos, sobretudo em razão do tempo decorrido de abandono da área.
           Aproveitar a aproximação de pleitos eleitorais para tirar proveito dessas classes, muitas vezes induzidas pelos momentos emocionais que se apresentam, por aqueles que defendem a tese do quanto pior melhor, é desrespeito ao Estado Democrático de Direito; é desrespeito a população que não concorda com a baderna.
            Carlos Alberto Lopes é deputado federal pelo PMN.